segunda-feira, 11 de abril de 2011

CONDIÇÕES DE VOO



  O QUE OS COMANDANTES LEVAM EM CONTA NA HORA DE DECIDIR POR SUBIR OU FICAR NO CHÃO.       

                                                           Sugestão da matéria: Rafael.


  Antecipando-se a hora de voar, o comandante da aeronave, sendo ela de passageiros ou não, tem acesso a uma informação de previsão metereológica (TAF), e uma informação de observação metereológica de superfície e de rotina (METAR), segundo os padrões internacionais da Organização Metereológica Mundial.

  Nessa informação constam: local, dia e hora, vento, visibilidade, alcance visual, tempo presente da pista, nebulosidade, temperatura do ar e ponto de orvalho, pressão ao nível do mar (QNH).

  Nenhum comandante decide-se por decolar sem ter acesso a estes códigos, mesmo decolando de um local não-controlado, como a pista de uma fazenda, por exemplo; o piloto pode solicitar ao centro de controle o AIREP – condição de tempo reportada em rota por piloto em voo.

  Uma aeronave sempre decola com o comandante ciente das condições do local da decolagem, da rota e do destino. Pode ocorrer uma mudança não-prevista na metereologia durante o voo, mas na maioria dos casos há como antecipar-se a ela; não sendo possível, com base nas informações de radar, se a aeronave dispuser desse equipamento, o comandante decide-se por uma rota alternativa. Se uma aeronave em voo regular (de linha aérea) opta por atravessar uma área instável, tenha certeza de que os arredores estarão muito pior.

  Agradeço pela sugestão, e espero ter satisfeito a curiosidade.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O terror do inimigo e a paixão de quem pilota: Aviação de Caça.


Sua missão é abater outra aeronave em condição de invasora.

O desafio é pilotar essas máquinas de combate.


  São 3:30 da madrugada, e uma névoa fina e gelada paira no pampa gaúcho. Na base aérea sede do 1º Esquadrão do 14º Grupo de Aviação de Caça, só as sentinelas e a luz intermitente da torre de controle dão mostras de que existe ser vivente. É quando tudo desperta, de súbito acordado por uma gritante sirene que corta o ar gelado da madrugada.

  No alojamento, uma luz vermelha gira, sinistra, refletindo nas paredes e nos beliches, de onde pulam dois vultos, como fantasmas, esfregando os olhos para espantar o sono e correm para a porta, pulando com uma perna só, enquanto a outra entra pela calça.

  Já no corredor, calçam apressados os coturnos, enfiando os braços pela gandola e segurando entre os dentes os trajes anti-G. O grito estridente continua, e a luz vermelha parece um sinal de mau agouro. Cruzando a sala de comando, aberta a essa hora, um oficial subalterno os acompanha na corrida, passando detalhes: “Uma aeronave não-identificada foi captada à 45 quilômetros a sudoeste, voando baixo e a uma boa velocidade, rumo sul. Não responde aos chamados do rádio, e mantém a rota. Bom vôo.”

  “Obrigado Nilo! O dia começou bem!” quem responde é o Major R., correspondido pelo sorriso do companheiro, o Capitão M.

  O Major R. dá um tapinha no ombro do Capitão, correndo para as aeronaves, dois AMX, previamente apontados para a pista. É a Operação Cruzex; uma ação conjunta de treinamento das Forças Aéreas dos países da América Latina. Os pilotos, claro, agem com o pensamento de que estão em uma guerra real.

  Ao lado dos aviões, o Tenente W. chefia a equipe de pernoite dos mecânicos da base. Presta continência aos aviadores: “Bom dia senhor Major! Bom dia senhor Capitão! Tudo em ordem e pronto para decolar! Bom vôo, senhor!”

  Correspondido o cumprimento, os oficiais sobem pela escada de acesso, sendo seguidos por dois especialistas, que fornecem os capacetes com as máscaras, e prendem os cintos nos pilotos, baixando em seguida o canopi e removendo a escada.

  “Zero, Uno, Dois... testando.” O Major chama pelo rádio. “Três, Quatro, Cinco... alto e claro.” Responde o Capitão. Ambos retiram o pino de trava do pára-quedas e levantam o braço, mostrando ao Tenente, que faz sinal de positivo. Os motores são acionados, e as luzes acesas. Agora a torre de controle chama: “Caçador uno e dois, em posição para a pista uno oito. Taxiar e decolar quando prontos.”

  “Copiado e ciente, torre. Caçador taxiando.” O Major responde, de pronto.

  As duas aeronaves, equipadas com mísseis ar-ar e ar-terra, e duas metralhadoras .50, alinham-se na pista, na cabeceira 18, rumo sul. “Ala, toda potência à frente, sem flaps. Roger.” O Major comanda ao Capitão. “Copiado, à frente sem flaps. Roger.”

  3:45 da madrugada. Dois caças AMX cortam o céu gaúcho, em direção ao sul. Suas luzes branca intermitente e verde e vermelha fixas rasgando o ar prenunciam próximo combate. Do cokpit, pouco se vê além de um borrão, e a sensação é de peso, literalmente. Respirar contra a pressão do ar é terrível, e é essa a impressão quando se tem uma máscara no rosto; o piloto tem de fazer força para literalmente “tragar” o ar para os pulmões. “Ala, bug estimado a su-sudoente, em 30 quilômetros. Subir para 10 mil pés. Roger.” Ao comando do Major, os dois caças levantam o bico para o alto, e sobem vertiginosamente. Nesse momento, os olhos parecem querer saltar das órbitas, e é necessário contrair toda a musculatura para que a força da gravidade não drene o sangue do cérebro, provocando a perda dos sentidos. A visão periférica se torna uma mancha, e é impossível levantar a cabeça.

  Um tanto dramática a narrativa, mas é o mais próximo possível da realidade. Os aviões de caça possuem um perfil simétrico nas asas que não gera nenhuma sustentação, o que os obriga a voar exclusivamente pela força do motor. Suas velocidades mínimas são muito altas, e o gasto de combustível é enorme. Apesar de serem bem manobráveis, os aviões de combate requerem muito do piloto. Segundo o Major Brigadeiro L. N. Menezes, “O piloto de caça representa o mais puro dos combatentes individuais, mestre e navegador de um dos mais perfeitos e complexos produtos da moderna era Industrial Militar”.

  Adolf Galland, Tenente General e Comandante-Chefe da Caça Alemã de 1939 a 1945, assim define a aviação de caça: “A caça, por definição, é uma arma de elite. Confiando a pilotos super selecionados aviões de preço quase incalculável, concebidos por engenheiros de gênio e executados por esmerados especialistas, criou-se um instrumento de extraordinária eficácia, mas também de extrema delicadeza. Instrumento afiado como navalha, que precisa ser utilizado por mãos ao mesmo tempo firmes e sensíveis”.

  O voo PPA-002 se encerra com o Hino da Aviação de Caça do Brasil:

  “Passei carnaval em Veneza/ Levando as bombinhas daqui./ Caprichei bem meu mergulho,/ Foi do barulho,/ O alvo atingi!/ E a turma da lá atirava;/ atirava sem cessar./ E o pobre do Jambock pulava,/ Pulava e gritava, sem desanimar, assim:/ Flac, Flac, este é de 40! Flac, Flac; tem .50!/ Um Bug aqui, um Bug ali,/ um Bug aqui, um Bug ali;/ Senta a Pua, minha gente, que ainda temos que estreifar!”

  VOCABULÁRIO:
  Traje anti-G = Vestimenta que se coloca sobre a roupa do piloto, extremamente ajustada, que se infla quando a força da gravidade fica muito forte, fazendo com que o sangue circule devagar, evitando assim uma desoxigenação no cérebro, e por conseqüência, a perca dos sentidos e mesmo o óbito.
  Canopi = capota, geralmente de vidro temperado, que cobre a cabine do piloto, e serve de porta.
  Taxiar = Movimentar a aeronave em terra.
  Flap = Dispositivo hipersustentador que altera o perfil da asa, possibilitando velocidades mais baixas.
  Cockpit = cabine do piloto.
  Bug = Possível inimigo.
  Jambock = Nome em código do esquadrão brasileiro da Força Aérea que lutou na Itália na II Guerra.
  Flac = Bateria anti-aérea alemã.
  Estreifar = Jargão militar entre os pilotos para “procurar possíveis alvos”.