Você está esperando o vôo, que já está com 20 minutos de atraso, apesar de o avião estar no pátio, e não entende a demora? Muito simples: alguns comandantes fazem jornadas de até 16 horas – muito mais do que qualquer caminhoneiro – e algumas empresas parcamente disponibilizam alguns minutos para um lanche; então você prefere que o seu piloto voe com fome ou que o seu vôo atrase uns 30 minutinhos enquanto o comandante almoça?? É claro que existem atrasos “reais” também... (culpa da ANAC, sem dúvida!).
Tudo bem, vencida a espera, todos embarcam felizes, e são recebidos pelo sorriso cativante do comandante e do segundo oficial (sem mencionar as comissárias, claro...). É anunciada a hora de calços-fora (táxi e decolagem), e a aeronave corre em direção aos céus. Tudo maravilhoso, não? Então as luzes do cinto de segurança se apagam; até aí não é novidade... o que os comandantes não explicam é porque em um carro, a 100Km/h é inseguro andarmos sem o cinto, e em uma aeronave a 800Km/h não; se passarmos por uma bolsa de ar, a cabeça dos senhores passageiros encontrarão o teto! Mas são normas da companhia, e obedecemos...
E, cá entre nós: também sentimos falta dos amendoins...
A verdade é que, pilotando, é natural contar aos passageiros o que eles precisam saber. Você nunca vai me ouvir dizendo: “Senhoras e senhores, acabamos de perder o motor”, mesmo se isso for verdade.
Quer cumprimentar o comandante? Simples: na maioria das vezes, o pouso é um bom indicador da habilidade do piloto, então, quando for descer do avião, diga: “Boa aterrissagem”. Todos os pilotos gostam disso. Mas não seja irônico; só elogie se realmente achar a aterrissagem suave.
Uma coisa é quando o piloto coloca o sinal para os passageiros apertarem os cintos. Mas, quando ele diz para os comissários de bordo se sentarem, é melhor escutar. Significa que há uma turbulência forte.
Viajar com um bebê no colo é seguro? Não, é extremamente perigoso. Se há algum impacto ou desaceleração, há uma boa chance de você não conseguir segurar seu filho e ele se torna um projétil. Mas a lógica do governo é que se mandarmos você comprar um assento para seu bebê, você acaba indo de carro, e há mais chances de se machucar viajando de automóvel do que de avião.
O lugar mais tranqüilo para sentar é perto da asa. O fundo é onde mais balança. O avião é como uma gangorra, se você vai no meio, não chacoalha muito.
Está frio no avião? Avise o comissário de bordo. Existe uma batalha constante entre eles e os comandantes sobre a temperatura. Eles se movimentam o tempo inteiro, por isso estão sempre ligando e pedindo para esfriar. Mas eu sei que a maioria dos passageiros congela.
Pilotos dormem? Sim. Às vezes, é só um cochilo de 10 minutos, mas acontece.
E, para tranqüilizá-los: nós nunca diremos: “Estamos caindo!”, e sim: “Senhores, em virtude de problemas técnicos, faremos uma aterragem forçada...”
Sejamos francos: apesar de tudo, mil vezes uma aeronave balançando como uma gangorra de parquinho infantil e poder apreciar as nuvens de perto, do que aquela horrível e cansativa viajem de automóvel. Sem mencionar que, na maioria das vezes, o vôo é simplesmente formidável.
Nossa conversa fica por aqui. Um bom final de semana.
Matéria com base em experiências somadas:
Jack Stephan, comandante da US Airways;
Jerry Johnson, piloto;
Jim Tilmon, piloto aposentado da American Airlines;
Joe D’Eon, piloto;
John Greaves, advogado de acidentes aéreos e comandante aposentado;
John Nance, analista de segurança na aviação e comandante aposentado;
Patrick Smith, piloto;
E o Autor, naturalmente.
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