Aos senhores pilotos: A ignorância do manual de uma aeronave é causa provável de acidentes aeronáuticos.
A narrativa a seguir foi inspirada na publicação do fato real na the international comanche society – comanche flyer.
Greenville, North Carolin, USA. 11am. Um Twin Comanche decola rumo norte para um vôo de mapeamento aéreo a 8000 pés.
13h. Missão cumprida, piloto e fotógrafo retornam, com céu limpo, ao aeródromo a 16 quilômetros. O comandante decide baixar o trem de pouso para aumentar o arrasto e facilitar a descida. Posicionando a chave na posição “baixar”, a luz de “trem recolhido” se apaga, mas o indicativo de “baixado e travado” não acende.
Sem qualquer alteração no pich (ângulo de atitude da aeronave), o comandante aciona a chave várias vezes, sem sucesso. Decide-se por fim a consultar o chec list (lista de verificações), e a usar o procedimento de emergência. Seguindo fielmente as instruções de emergência, o piloto retira a tampa de acesso do trem de pouso localizada entre os acentos do piloto e co-piloto. A seguir, levanta uma maçaneta vermelha para desengatar a hélice e reporta que a temperatura do motor estava elevada, observando também que o eixo da alavanca se movia livremente enquanto a “bombeava”, segundo suas palavras. O comandante declarou ter “bombeado” a alavanca de 200 a 300 vezes, sempre em contato com a base de operações, realizando 4 passagens rasantes sobre o aeródromo, para o pessoal de terra informar a posição do trem de pouso. O pessoal do aeródromo reportou que, enquanto o piloto acionava repetidamente a alavanca, o trem subia e descia, sem estabilizar-se.
Restando menos de 30 minutos de combustível, o comandante decide-se pela última alternativa: aterrar de barriga, pedindo que os bombeiros fossem acionados. Na perna-base, instrui o fotógrafo, único passageiro, a destravar e manter a porta entreaberta a fim de evitar que ela ficasse obstruída. No pouso, o comandante reduziu a marcha para idle (lenta), embandeirando as hélices e empobrecendo a mistura.
No toque, o trem de pouso desmontou e a aeronave derrapou para a esquerda, do meio da pista, enquanto o piloto desliga a bateria e os magnetos. Após a parada completa, comandante e passageiro saem sem qualquer dano.
A primeira vista, foi um procedimento digno de honras, mas...
O Twin Comanche possui o trem de pouso com sistema elétrico, e não-hidráulico. a última instrução de emergência para baixar o trem manualmente é empurrar a maçaneta totalmente para frente para estender completamente o trem de pouso.
O piloto foi vítima da força do hábito, tendo 9000 horas de voo, e qualificado em Airline Transport Pilot e Chief Flying Instructor, tinha muita experiência, mas praticamente nenhuma no Comanche, e se leu o manual de vôo, pulou a parte do trem de pouso.
É bom saber que, embora voar represente apenas um agradável hobby a muitos pilotos, não existem meios de acionar o funcionamento dos sistemas do avião para a sua habilidade de voar. É bem provável que o piloto tenha de fazer uso de todos os sistemas do avião a cada vôo, e não há meios de saber quando uma emergência vai acontecer.
NADA JUSTIFICA ECONOMIZAR TEMPO E ESFORÇO DE LER O MANUAL DE INSTRUÇÕES DA AERONAVE.
O avião não é como um carro, que se der problema simplesmente encosta. Como dizia meu professor de Teoria de Voo: “Não se preocupe, que avião não cai; ele plana como uma jaca!”
Nossa conversa fica por aqui; aguardem o próximo vôo, e não se preocupem: eu leio o manual.
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